O cenário do crédito ao consumidor no Brasil apresenta uma dualidade interessante para o varejista. Por um lado, existe uma forte cultura de pagamento parcelado. Pesquisas indicam que uma parcela significativa da população brasileira utiliza o pagamento a prazo, com cerca de 60% dos brasileiros optando por essa modalidade e 10% utilizando crediários como forma de parcelamento.Esta preferência demonstra uma demanda latente por soluções de crédito que facilitem o acesso a bens e serviços.
Por outro lado, a realidade da inadimplência é um desafio constante. Dados recentes, como os de abril de 2025, apontam para 76,6 milhões de brasileiros endividados, sendo a faixa etária entre 41 e 60 anos a mais representativa, com 35,1% do total.Este alto índice de inadimplência, embora alarmante, não deve ser encarado apenas como um impedimento. Paradoxalmente, ele sublinha a necessidade de crédito acessível e, consequentemente, representa uma oportunidade para os lojistas que implementam sistemas de crediário próprio de forma segura e responsável. Muitos consumidores, especialmente aqueles com acesso limitado ao crédito formal ou que já atingiram o limite de seus cartões , podem se tornar clientes leais a estabelecimentos que lhes ofereçam soluções de parcelamento viáveis e bem gerenciadas. A chave está em transformar um aparente "risco" em uma base de clientes fiéis, priorizando sempre a segurança e a sustentabilidade das operações de crédito.
A análise de crédito é, inquestionavelmente, o pilar fundamental para a segurança nas vendas a prazo. Uma avaliação criteriosa e bem executada do perfil do cliente antes da concessão do crediário é a principal ferramenta do lojista para mitigar riscos. Ela não apenas ajuda a reduzir significativamente os índices de inadimplência, protegendo o fluxo de caixa da empresa, mas também pode direcionar e até impulsionar as vendas para os clientes certos, aqueles com maior probabilidade de honrar seus compromissos.Ignorar ou negligenciar esta etapa é expor o negócio a perdas financeiras que podem comprometer sua sustentabilidade. Um estudo da Serasa Experian revelou um dado alarmante: em 2023, 42,1% das empresas brasileiras enfrentaram dificuldades financeiras devido à inadimplência de clientes.Este número reforça a criticidade de uma análise de crédito robusta como primeira e mais importante linha de defesa do varejista.
O ponto de partida para uma análise de crédito eficaz é a coleta organizada e detalhada de informações sobre o cliente. Manter um cadastro completo e, crucialmente, atualizado é vital.A ausência de informações corretas ou a desatualização cadastral não só dificultam uma avaliação precisa do risco, como também podem inviabilizar futuras ações de cobrança em caso de inadimplência.
Os documentos usualmente solicitados para a abertura de crediário incluem:
Documento de Identidade oficial com foto (RG ou CNH).
Cadastro de Pessoa Física (CPF).
Comprovante de residência atualizado (conta de água, luz, telefone).
Comprovante de renda (holerite, declaração de Imposto de Renda, extrato bancário).
O processo de cadastro do cliente deve ser encarado não como um mero preenchimento de formulário, mas como a criação de um dossiê de relacionamento e risco. A qualidade, a profundidade e a veracidade dos dados coletados inicialmente têm um impacto direto e significativo em todas as etapas subsequentes do ciclo de crédito, desde a definição do limite inicial até uma eventual e indesejada necessidade de cobrança. É importante ressaltar que a coleta e o tratamento desses dados devem estar em estrita conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que exige finalidade específica, consentimento (quando aplicável) e transparência no uso das informações pessoais.Cada dado solicitado deve ter uma justificativa clara dentro do processo de análise de crédito.
Uma etapa indispensável na análise de crédito é a consulta a órgãos de proteção ao crédito, como SPC Brasil e Serasa Experian. Esses birôs de crédito mantêm vastos bancos de dados com o histórico financeiro de consumidores e empresas, registrando informações sobre dívidas vencidas, pagamentos em dia (Cadastro Positivo), protestos, cheques sem fundos e outras ocorrências relevantes para a avaliação do risco de crédito.
O Score de Crédito é uma pontuação gerada a partir dessas informações, que varia, no caso da Serasa, de 0 a 1000 pontos, e indica a probabilidade de um consumidor honrar seus compromissos financeiros nos próximos meses.Quanto mais alta a pontuação, menor o risco percebido. Os critérios utilizados pela Serasa para calcular o score incluem o histórico de pagamentos (com peso de 29%), a experiência do consumidor no mercado de crédito (24%), a existência de dívidas negativadas (21%), a frequência de busca por crédito (12%), informações cadastrais (8%) e o histórico de contratos de crédito (6%).
Embora o Score de Crédito seja uma ferramenta poderosa e um excelente ponto de partida para a análise, ele não deve ser o único critério para a decisão de conceder ou negar crédito. Lojistas que combinam a pontuação do score com dados internos – como o histórico de compras e pagamentos do cliente na própria loja, o tempo de relacionamento e o tipo de produto adquirido – e outras informações contextuais, como a estabilidade no emprego ou residência , podem tomar decisões mais matizadas e precisas. Essa abordagem mais holística permite, por exemplo, aprovar crédito para clientes com scores medianos mas com excelente histórico na loja, que poderiam ser indevidamente recusados por uma análise fria e puramente baseada na pontuação. Da mesma forma, pode ajudar a identificar riscos ocultos em clientes novos com scores aparentemente bons, mas sem um histórico de relacionamento local.
Conhecer o perfil típico do cliente que busca o crediário próprio é fundamental para ajustar as políticas de crédito e as estratégias de venda. Uma pesquisa do SPC Brasil, citada em diversas fontes , traça um retrato desse consumidor no Brasil:
Gênero: Predominantemente mulheres (31% das que recorrem ao crediário).
Classes Sociais: Concentração nas classes C, D e E (27%).
Motivações para Uso: A principal razão é a impossibilidade de pagar à vista (39%), seguida pela falta de limite disponível no cartão de crédito (17%) e pela percepção de menor burocracia (13%).
Produtos Mais Comprados: Roupas, calçados e acessórios lideram (48%), seguidos por eletrônicos (35%) e eletrodomésticos (30%).
Histórico de Inadimplência: Um dado relevante é que 58% dos usuários de crediário já tiveram o nome negativado por atraso em prestações dessa modalidade.
Os setores que mais se utilizam da estratégia de crediário próprio incluem lojas de vestuário, calçados, móveis e materiais de construção.
O fato de uma parcela considerável dos usuários de crediário já ter enfrentado problemas de inadimplência (58%) e de muitos recorrerem a essa modalidade por não terem condições de pagar à vista ou por falta de limite no cartão de crédito sinaliza que, para uma parte da população, o crediário funciona como uma alternativa de crédito essencial, por vezes a única disponível. Isso implica um risco inerente potencialmente mais elevado para o lojista. Contudo, também demonstra uma demanda consistente por crédito acessível. A segurança na concessão, portanto, não reside em evitar esses clientes, mas em desenvolver sistemas de análise e acompanhamento sofisticados, capazes de identificar os bons pagadores dentro desse grupo que pode apresentar maior vulnerabilidade financeira. Oferecer condições de pagamento que sejam realistas e sustentáveis para o orçamento desses clientes é igualmente crucial. Adicionalmente, considerando que 31% dos usuários de crediário não controlam suas despesas e que a média de parcelamento é de seis vezes, o lojista pode, inclusive, desempenhar um papel orientador, promovendo o uso consciente do crédito, o que, por sua vez, pode contribuir para a redução do risco e o fortalecimento da lealdade do cliente.
A definição do limite de crédito é uma das decisões mais críticas no processo de crediário. Utilizar apenas a renda mensal do cliente como base para essa definição, especialmente para compras de menor valor (ticket médio inferior a R$ 600), é uma prática considerada ultrapassada e inadequada. A antiga regra de limitar o crédito a 20% da renda, por exemplo, não reflete a complexidade do perfil de risco do consumidor moderno.
Para uma definição de limite mais segura e eficaz, é essencial considerar um conjunto mais amplo de fatores, incluindo :
Capacidade de Pagamento: Análise da renda, das despesas fixas e do fluxo de caixa do cliente.
Comportamento de Compras e Crédito: Padrões de consumo e histórico de pagamentos em outras obrigações financeiras.
Histórico de Crédito: Avaliação da regularidade e responsabilidade em pagamentos anteriores, consultando birôs de crédito.
Relacionamento com a Empresa: Tempo de relacionamento e histórico de transações com a própria loja podem justificar maior flexibilidade.
Condições de Mercado: Fatores econômicos externos, como inflação e taxas de juros, que podem impactar a capacidade de pagamento.
A inteligência de dados desempenha um papel crucial aqui, permitindo analisar o perfil de risco de cada cliente de forma individualizada.
É importante entender que a definição de limites de crédito é um processo dinâmico, não estático. O limite inicial concedido a um novo cliente pode ser mais conservador. Contudo, ele deve ser reavaliado periodicamente com base no comportamento de pagamento demonstrado por esse cliente ao longo do tempo.Lojas que adotam sistemas para ajustar os limites de forma inteligente – aumentando para bons pagadores e mantendo ou restringindo para clientes de maior risco – conseguem não apenas otimizar a rentabilidade da carteira de crediário, maximizando o potencial de venda para clientes de baixo risco, mas também mitigar perdas com aqueles que apresentam um perfil menos favorável.
A criação de uma política de crédito bem definida é o alicerce para uma operação de crediário segura e eficiente. Este documento servirá como o manual da sua operação, estabelecendo as diretrizes, critérios e procedimentos que nortearão todas as decisões de concessão de crédito. Segundo o Sebrae, os componentes essenciais de uma política de crédito incluem a definição de prazos e planos de financiamento, as taxas de juros a serem praticadas, a metodologia para cálculo e atribuição de limites de crédito para cada cliente, o limite máximo de comprometimento da renda do cliente com as prestações, os critérios para liberação de crédito para novos clientes, a forma de avaliação de restrições cadastrais, os instrumentos de crédito a serem utilizados (como carnês ou notas promissórias) e as garantias que podem ser exigidas.
O principal objetivo da política de crédito é encontrar um equilíbrio saudável entre o desejo de aumentar as vendas e a necessidade de minimizar a exposição ao risco de inadimplência.Estudos indicam que empresas com uma política de crédito estruturada tendem a manter um nível de inadimplência mais saudável; um levantamento da Deloitte apontou que 82% dessas empresas conseguem esse feito.
Uma política de crédito, por mais bem elaborada que seja, só atingirá sua eficácia máxima se for claramente comunicada e compreendida por toda a equipe envolvida no processo de crediário, especialmente vendedores e analistas de crédito.O alinhamento da equipe com as diretrizes estabelecidas é crucial para garantir a aplicação consistente dos critérios e para evitar decisões de crédito baseadas em subjetividade, "achismo" ou pressão excessiva por metas de vendas, fatores que invariavelmente elevam o risco da operação. A política de crédito deve ser um documento vivo, revisado periodicamente e reforçado através de treinamentos e comunicação contínua.
A formalização da venda a prazo através de um contrato de crediário ou um título de crédito equivalente é uma medida de segurança jurídica indispensável.Este documento legaliza a transação, estabelece os direitos e deveres de ambas as partes (lojista e consumidor) e serve como instrumento para eventual cobrança judicial em caso de inadimplência.
O contrato deve ser redigido de forma clara, objetiva e em linguagem acessível, em estrita observância ao Código de Defesa do Consumidor (CDC). É fundamental que todas as condições da transação estejam explicitadas, incluindo o preço total do produto ou serviço, o valor da entrada (se houver), o número e o valor das parcelas, a taxa de juros mensal e anual (Custo Efetivo Total - CET), as datas de vencimento, as multas e encargos por atraso, e as condições para quitação antecipada com desconto de juros. Cláusulas que sejam consideradas abusivas pelo CDC, como as que estabeleçam obrigações iníquas para o consumidor ou o coloquem em desvantagem exagerada, são nulas de pleno direito.
Um contrato de crediário bem elaborado e transparente funciona como uma ferramenta de proteção mútua. Para o lojista, ele garante a formalização da dívida e das condições acordadas, conferindo maior segurança para a recuperação do crédito. Para o consumidor, assegura o direito à informação clara e precisa sobre os termos da compra. Um contrato que respeita a legislação e os direitos do consumidor não apenas minimiza a probabilidade de disputas legais, mas também reforça a imagem da empresa como uma organização séria, justa e transparente. Essa percepção positiva pode, indiretamente, influenciar o comportamento de pagamento do cliente e reduzir a inadimplência intencional.
A prevenção de fraudes é um componente crítico da segurança nas operações de crediário. As perdas decorrentes de fraudes podem ser tão ou mais impactantes quanto as geradas pela inadimplência. Algumas dicas gerais de prevenção incluem ter cautela com o manuseio de dados pessoais dos clientes, implementar processos rigorosos para verificar a identidade do solicitante e desconfiar de documentos que apresentem sinais de adulteração ou inconsistências.
Para lojas físicas, é importante treinar a equipe para estar atenta a comportamentos suspeitos de clientes no momento da solicitação do crédito e para realizar uma validação cuidadosa dos documentos apresentados. No caso do crediário digital, a segurança dos dados transmitidos e armazenados, bem como a utilização de métodos de autenticação robustos para o cliente, são essenciais. O Sebrae oferece orientações gerais para empresas sobre prevenção de fraudes, como a importância de entender todos os procedimentos que envolvem dinheiro, construir uma equipe confiável e bem treinada, monitorar relatórios financeiros e operacionais, utilizar a tecnologia a seu favor (como softwares de gestão e análise), verificar as referências de fornecedores e parceiros, e criar políticas internas claras de segurança da informação.Embora estas dicas sejam genéricas, podem ser adaptadas para o contexto específico da prevenção de fraudes no crediário.
A prevenção de fraudes no crediário próprio é um esforço contínuo que exige uma combinação de tecnologia adequada, processos bem definidos e, fundamentalmente, uma equipe treinada e alerta. Com a crescente sofisticação das fraudes, especialmente no ambiente digital, mesmo as lojas predominantemente físicas que adotam componentes digitais em seu processo de crediário (como análise de crédito online, assinatura digital de contratos ou recebimento de parcelas por meios eletrônicos) precisam estar vigilantes. Uma fraude bem-sucedida não acarreta apenas a perda financeira direta do valor da mercadoria ou do crédito concedido; ela também pode minar a confiança dos clientes legítimos, caso seus dados pessoais sejam comprometidos durante o processo, e gerar custos adicionais com investigações e correções. Portanto, a prevenção de fraudes é multifacetada, indo além da simples verificação de um documento e exigindo um sistema de defesas em camadas, que evolua constantemente para enfrentar novas ameaças.
Compreender a dimensão da inadimplência no Brasil é o primeiro passo para que o lojista possa calibrar suas estratégias de gestão de risco e cobrança. Os dados fornecidos por instituições como o Serasa pintam um quadro que exige atenção e preparo.
Tabela 1: Panorama da Inadimplência no Brasil (Dados Relevantes do Serasa)
Indicador | Dado (Abril/25 ou período mais recente destacado) | Fonte |
---|---|---|
Número total de inadimplentes no país | 76,6 milhões | Serasa |
Crescimento no volume de inadimplentes (vs. mês anterior) | Aumento de 1,15% (Abril/25 vs. Março/25) | Serasa |
Faixa etária com maior percentual de inadimplentes | 41 a 60 anos (35,1%) | Serasa |
Faixa etária seguinte | 26 a 40 anos (34%) | Serasa |
Valor médio de cada acordo (Renegociação Serasa Limpa Nome) | R$ 790 (Abril/25) | Serasa |
Total de ofertas disponíveis para negociação (Serasa Limpa Nome) | Mais de R$ 934 bilhões (Abril/25) | Serasa |
Fonte: Serasa
Estes números demonstram não apenas a magnitude do endividamento, mas também a constante flutuação e a necessidade de monitoramento. Para o lojista que opera com crediário próprio, esses dados reforçam a importância de implementar políticas de crédito e cobrança robustas e adaptáveis, capazes de mitigar o risco inerente a um cenário de alta inadimplência. Conhecer o perfil predominante do inadimplente também pode auxiliar no refinamento dessas políticas.
A análise de crédito realizada no momento da primeira compra é apenas o ponto de partida. O perfil de risco de um cliente não é estático; ele pode mudar rapidamente devido a diversos fatores, como perda de emprego, problemas de saúde ou descontrole financeiro. Estima-se que cerca de 20% dos clientes que compram no crediário sofrem alguma alteração em seu perfil de risco em um período de até 15 dias.Portanto, reutilizar uma análise de crédito antiga não oferece uma margem de segurança adequada.
É crucial implementar um sistema de monitoramento contínuo da carteira de clientes.Isso envolve acompanhar de perto o comportamento de pagamento de cada cliente, identificar rapidamente quaisquer sinais de atraso e reavaliar periodicamente a situação financeira e o limite de crédito, especialmente para clientes ativos.Softwares de gestão de crediário e sistemas ERP podem automatizar parte desse monitoramento, alertando sobre parcelas em atraso e facilitando a visualização do status da carteira.Essa vigilância constante permite que o lojista tome ações preventivas, como entrar em contato com o cliente antes que um pequeno atraso se transforme em uma dívida maior, ou ajustar limites de crédito para evitar superexposição ao risco.
Mesmo com as melhores práticas de análise de crédito e monitoramento, a inadimplência pode ocorrer. Quando isso acontece, é fundamental ter estratégias de cobrança que sejam ao mesmo tempo eficazes na recuperação dos valores devidos e legais, respeitando os direitos do consumidor.
1. A Régua de Cobrança Personalizada:
Uma abordagem estruturada para a cobrança é a implementação de uma "régua de cobrança". Trata-se de uma sequência de ações e contatos programados, que se intensificam à medida que o atraso no pagamento persiste. Essa régua pode incluir lembretes amigáveis antes do vencimento, notificações de atraso logo após o vencimento e contatos mais assertivos para negociação conforme o tempo passa.Os canais de comunicação podem variar (e-mail, SMS, WhatsApp – sempre com o consentimento prévio do cliente para este último) e devem ser adaptados ao perfil do cliente e à política da loja. Os tipos de cobrança podem ser classificados em :
* Preventiva: Lembretes antes do vencimento.
* Amigável: Contato inicial após o vencimento para entender o motivo e negociar.
* Administrativa: Ações mais formais, como notificações e negativação, caso a cobrança amigável não surta efeito.
* Judicial: Recurso à justiça como última instância.
2. Dicas para uma Cobrança Humanizada e Eficaz:
A forma como a cobrança é conduzida tem um impacto direto no seu sucesso e na manutenção do relacionamento com o cliente.
* Linguagem: Evite termos que possam constranger o cliente, como "dívida". Prefira expressões como "débito pendente" ou "valor em aberto".
* Empatia: Tente entender o motivo do atraso. Muitas vezes, o cliente enfrenta dificuldades financeiras temporárias e uma abordagem compreensiva pode facilitar a negociação.
* Propostas Claras: Tenha propostas de negociação prontas, como parcelamento do débito, oferta de um pequeno desconto para quitação à vista ou ajuste nas datas de pagamento.
* Tom de Voz: Mantenha sempre um tom amigável, respeitoso e profissional, mesmo diante de situações difíceis.*
Scripts e Modelos: Utilizar modelos de mensagens e scripts de abordagem pode ajudar a equipe a manter a consistência e a eficácia na comunicação.
3. Respeitando o Código de Defesa do Consumidor (CDC) na Cobrança:
A legislação brasileira, em especial o Código de Defesa do Consumidor, estabelece limites claros para as práticas de cobrança. É fundamental que o lojista e sua equipe conheçam e respeitem essas regras para evitar problemas legais e danos à reputação da empresa.
* O que as empresas PODEM fazer: Entrar em contato com o devedor em horários comerciais razoáveis, por telefone, e-mail ou carta; propor acordos e negociações; registrar o nome do devedor em órgãos de proteção ao crédito após o devido processo; e contratar empresas especializadas em cobrança (que também devem seguir as regras).
* O que as empresas NÃO PODEM fazer: Utilizar de ameaças, coação, constrangimento físico ou moral; fazer afirmações falsas, incorretas ou enganosas; expor o consumidor ao ridículo; realizar um número excessivo de ligações; divulgar a dívida para terceiros (vizinhos, familiares, colegas de trabalho); ou contatar o devedor em seu local de trabalho, descanso ou lazer de forma a perturbá-lo.
* Direitos do Consumidor: O consumidor tem o direito de registrar todas as tentativas de cobrança (anotando datas, horários, nomes), solicitar que as informações sobre a dívida e propostas de acordo sejam enviadas por escrito, e, caso se sinta lesado, procurar órgãos de defesa do consumidor, como o Procon.
Uma estratégia de cobrança que é ao mesmo tempo eficaz na recuperação de crédito e estritamente legal não se resume apenas a reaver o dinheiro. Ela também visa preservar, sempre que possível, o relacionamento com o cliente e, fundamentalmente, proteger a reputação da loja. Abordagens agressivas, desrespeitosas ou ilegais podem resultar em passivos judiciais, multas, danos irreparáveis à imagem da empresa e a perda definitiva não só do cliente inadimplente, mas também de potenciais futuros clientes que tomem conhecimento de tais práticas. A tecnologia, como softwares de gestão de cobrança , pode tornar o processo mais eficiente e sistemático, automatizando lembretes e organizando a carteira de inadimplentes. No entanto, o toque humano, a empatia e a capacidade de negociação continuam sendo cruciais, especialmente nas fases mais avançadas da cobrança. A combinação de processos bem definidos (como a régua de cobrança), uma abordagem empática e o total respeito à legislação vigente é o caminho mais seguro e sustentável.
A negociação é uma etapa chave no processo de recuperação de créditos. Agir rapidamente assim que um atraso é identificado e ter um plano de ação definido são passos importantes.A flexibilidade por parte do lojista pode ser determinante para o sucesso da negociação. Isso pode incluir oferecer opções como o reparcelamento da dívida com juros e multas atualizados, a concessão de um desconto para pagamento à vista, ou, em situações mais críticas e como último recurso, até mesmo a retomada de parte da mercadoria vendida (se aplicável e legalmente viável) ou o recebimento de outros bens em pagamento.
É fundamental que todos os termos de qualquer acordo de renegociação sejam devidamente documentados e assinados por ambas as partes, especificando os novos valores, prazos e condições.Isso evita mal-entendidos futuros e confere segurança jurídica ao novo acordo. O objetivo da negociação não é apenas recuperar o valor em aberto, mas também, quando a situação permitir e o cliente demonstrar boa-fé, buscar uma solução que viabilize a regularização da pendência e, idealmente, a manutenção do cliente para futuras compras.
A jornada para oferecer crediário próprio de forma segura e rentável se sustenta sobre pilares fundamentais que, quando bem implementados e gerenciados, transformam essa modalidade de venda em um poderoso motor de crescimento. Estes pilares são:
Análise de Crédito Robusta e Baseada em Dados:
A avaliação criteriosa do perfil de risco de cada cliente, utilizando informações cadastrais, consultas a birôs de crédito, scores e, idealmente, inteligência de dados, é a primeira e mais crucial linha de defesa contra a inadimplência.
Políticas de Crédito Claras e Bem Comunicadas:
Estabelecer regras e procedimentos claros para a concessão de crédito, limites, prazos e taxas, e garantir que toda a equipe os conheça e aplique consistentemente, é vital para a padronização e segurança das operações.
Uso Inteligente da Tecnologia:
Adotar softwares de gestão de crediário ou sistemas ERP com funcionalidades adequadas automatiza processos, melhora a análise de risco, otimiza a cobrança e fornece informações estratégicas para a tomada de decisão.
Gestão Proativa da Inadimplência:
Monitorar continuamente a carteira de clientes, implementar réguas de cobrança eficazes e humanizadas, e estar preparado para negociar dívidas de forma flexível, mas assertiva, são ações essenciais para minimizar perdas.
Conformidade Legal (CDC e LGPD):
Operar em estrita observância ao Código de Defesa do Consumidor, especialmente nas práticas de cobrança e na clareza contratual, e à Lei Geral de Proteção de Dados, garantindo a privacidade e a segurança das informações dos clientes, não é apenas uma obrigação, mas um diferencial de confiança.
Oferecer crediário próprio carrega consigo desafios e riscos inegáveis, principalmente em um cenário econômico que pode ser volátil. No entanto, quando gerenciado com profissionalismo, diligência e as ferramentas corretas, o crediário se revela uma estratégia extremamente valiosa para o varejista. Ele não apenas possibilita o aumento das vendas e do ticket médio, mas também abre portas para a conquista e fidelização de uma parcela de consumidores que valoriza a flexibilidade e o relacionamento direto com a loja.
O investimento em conhecimento, no desenvolvimento de processos sólidos, na capacitação da equipe e na adoção de tecnologias adequadas para a gestão do crediário não deve ser encarado como um custo, mas como um investimento estratégico no futuro e na sustentabilidade do negócio. As boas práticas detalhadas neste guia, quando implementadas de forma consistente, pavimentam o caminho para que o lojista possa colher os frutos da venda a prazo com muito mais segurança e confiança, transformando o crediário próprio em um verdadeiro diferencial competitivo.
CEO da Olom
Nenhum comentário ainda. Seja o primeiro!
O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *